Quem te viu, quem te vê!

Capítulo do livro PRECISO DE FORÇA - JÁ PENSOU EM ENTREGAR OS PONTOS? - que estou escrevendo.


“Jó, será que você ficará ofendido se eu falar? Mas quem é que pode ficar calado? Você ensinou muita gente e deu forças a muitas pessoas desanimadas. Quando alguém tropeçava, cansado e fraco, as suas palavras o animavam a ficar de pé. Mas agora que chegou a sua vez de sofrer, como é que você perde a paciência e a coragem? O seu temor a Deus não lhe dá confiança? A sua vida correta não o enche de esperança?”
Jó 4.2-6 – NTLH

Vamos tentar contemporanizar essa história.

Imagine um homem com aproximadamente 70 anos ao seu lado durante o encontro da igreja no domingo à noite. A primeira coisa que ele faz quando te vê é dar um abraço caloroso e um beijo amigo. Você se sente feliz em estar ao lado desse irmão querido. Ele canta alegremente os cânticos e participa ativamente da reunião. Certamente um homem maduro, pois tem 10 filhos e os criou muito bem. Sua esposa ao seu lado olha para traz e sorri. Olha só! Que lindo! Toda a posteridade no banco de traz. Os pequenos já estão bem crescidos e casados, no entanto continuam sendo alvo da oração de seu pai, todos os dias. Esse pai é realmente um homem de sucesso em todas as áreas, mas principalmente, temente a Deus e que se desvia do mal.

Ele conquistou muita riqueza com o seu trabalho, e o fez honestamente. Construiu um império no setor da pecuária, mas ainda assim continuou temendo a Deus e sendo fraternal com todos. É respeitado e respeitador. Tem muitos amigos. Todos que o cercam o procuram para receber instrução sobre o que você imaginar, e ele está lá, presente, disposto a servir. É verdadeiramente um homem íntegro.

Além disso, faz um excelente trabalho filantrópico, visita os asilos, creches, hospitais e nunca se negou a dar uma palavra de consolo para cada pessoa que visse sofrendo ou triste. Anima os desanimados; instrui os novos convertidos no caminho da fé; é o primeiro a se dispor para pregar a palavra de Deus para os incrédulos; quando percebe que alguém na comunidade está fraco, quem você vê por perto? Ele. Você então conclui: Um homem assim é realmente raro e agradece a Deus por tê-lo por perto.

Agora vamos fazer o seguinte: Suas férias chegaram e você viaja para o litoral pernambucano. Quando volta de suas férias você se pergunta: por que meu querido irmão Jó não está na reunião hoje? Depois você descobre que em um só dia a calamidade veio sobre a vida daquele irmão. Seus bens foram roubados, destruíram seu patrimônio, eliminaram seus encarregados, e o pior, quando todos os seus filhos estavam reunidos para uma feijoada na casa do primogênito, um terrível vendaval assolou a região e literalmente derrubou a casa sobre eles e todos morreram.

A coisa ficou feia, ein? Poderia ficar pior? Foi o que aconteceu. No outro dia esse já pobre homem acordou doente, com uma inoportuna hanseníase aguda. Teve que ser internado às pressas num hospital especializado e isolado do contato social dada à gravidade da doença. O incômodo era tanto em seu corpo que até um caco de telha ele usava para coçar a pele e tentar amenizar o sofrimento.

Sua mulher foi visitá-lo e lhe disse: “Você ainda continua sendo bom? Amaldiçoe a Deus e morra”! Ele resolve não acatar o conselho de sua mulher e não abandona a fé em Deus.
Então, os três melhores amigos de Jó vão visitá-lo no hospital. Vamos com eles? Olha só isso! Não pode ser! Aquele é Jó? Sério? Por causa da doença ele está irreconhecível, mas é ele sim. Que horror! Que desgraça! Todos lamentam.

Então, por vários dias presenciamos aquele homem em sua aflição. São tantas lágrimas que só de vê-lo nossa garganta fica entalada. Com tanto sofrimento ele começa a se queixar de ter nascido. Seus lamentos ganham força. O que se ouve é apenas: “Por que não nasci morto? Por que os infelizes continuam vendo a luz? Por que deixar que vivam os que têm o coração amargurado? Eles esperam a morte, e ela não vem, embora a desejem mais do que riquezas. Eles ficam muito alegres e felizes quando por fim descem para a sepultura. Deus os faz caminhar às cegas e os cerca de todos os lados. Em vez de comer, eu choro, e os meus gemidos se derramam como água. Aquilo que eu temia foi o que aconteceu, e o que mais me dava medo me atingiu. Não tenho paz, nem descanso, nem sossego; só tenho agitação.” Jó 3.11, 20-26

Então um de seus amigos, Elifaz, começa a discursar:
“Você ensinou muita gente e deu forças a muitas pessoas desanimadas. Quando alguém tropeçava, cansado e fraco, as suas palavras o animavam a ficar de pé. Mas agora que chegou a sua vez de sofrer, como é que você perde a paciência e a coragem?” Em outras palavras: Quem te viu, quem te vê, Jó!

Eu acho que você também já deve ter passado, ou até mesmo deve estar enfrentando essa situação. Você olha para traz e sente muita saudade dos tempos brilhantes que você viveu. Os incrédulos olhavam para você e passavam a crer ao ver o brilho de Cristo nos seus olhos. Você orientava sabiamente os desnorteados, consolava teus amigos nos tempos difíceis que viviam, não negava uma palavra de ânimo aos cansados.

Você lembra dos sonhos que tinha, daquilo que acreditava e pregava com tanto calor, das motivações que te impulsionavam e de como o propósito eterno de Deus fazia o teu coração bater mais forte. As pessoas se alegravam ao te ver, vibravam ao te ouvir. As palavras que você falava eram palavras de cura e restauração.

Mas agora você pode estar um tanto confuso. Você se pergunta: “Como vim parar aqui?”. O interessante é que você lembra das palavras de ânimo que proferia aos outros e apesar disso, não consegue se levantar. Você se encontra fraco, debilitado, angustiado e cansado. Alguém pode até ter te dito: Pois é! Quem te viu, quem te vê, ein?

Você sorria e agora está tão triste.

Você cantava e agora não consegue parar de chorar.

Ninguém consegue sentir ou ter noção da sua dor.

O que o seu coração mais deseja é alguém que te compreenda e simplesmente esteja ao teu lado. Mas "parece" que você não tem.

Alguns tentam encontrar explicações para você. Outros te apresentam formulas prontas para sair dessa. Alguns discutem as razões da tua desgraça. Outros te criticam por teu desânimo e te lembram do passado. O certo é que muitos tentam te ajudar, mas não sabem como. Ao invés disso, sem sabedoria, te deixam ainda mais fraco.

Elifaz, o amigo de Jó, continua:
“Você lembra de alguma pessoa inocente que tenha caído na desgraça ou de alguma pessoa honesta que tenha sido destruída? Tenho notado que os que aram campos de maldade e plantam sementes de desgraça só colhem maldade e desgraça”. 4.7-8

Percebeu o tom? Olha só, em outras palavras, como Elifaz tenta ajudar Jó:
“Você está nessa Jó porque você realmente merece. Você provavelmente deve ter plantado muita coisa ruim pra estar vivendo tanta desgraça”.

Sabemos da integridade de Jó. Sabemos que toda aquela situação na vida dele não tinha relação direta com seu pecado. Ele estava sendo provado em sua fé. Mas apesar disso, não foi poupado de infelizes comentários, não bastasse todo sofrimento que estava vivenciando. Imagina se ele realmente estivesse colhendo os frutos de seus pecados? Como agiriam seus consoladores?

De uma coisa eu sei. Quem te viu forte e agora te vê fraco deveria ser suporte para você. Todos nós temos momentos de fraqueza e nesses momentos o que mais precisamos são de pessoas que, pacientemente, nos ajudem a levantar. Ao invés de ficarem analisando tua situação, deveriam estar te ajudando a curar tua ferida.

Quero te dizer algo importante. Não sei a razão de tua fraqueza, se está colhendo algo que plantou ou se você é o provado da vez. Uma coisa é certa: “O nosso Grande Sacerdote não é como aqueles que não são capazes de compreender as nossas fraquezas. Pelo contrário, temos um Grande Sacerdote que foi tentado do mesmo modo que nós, mas não pecou”. Hebreus 4:15
Jesus compreende você. Ele também ficou muito fraco e atribulado, todavia sem cometer pecado. Ele resolveu passar por tudo aquilo para estar ao teu lado nesse momento. Mais que isso! Sim! Ele está dentro de você e intercedendo ao Pai por você, mesmo quando você nem sabe como orar de tão fraco que fica. “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis”. Romanos 8:26

Nos momentos mais angustiantes, quando a força se esvai completamente, lembre-se: tem alguém que intercede por você com gemidos que não podem ser explicados por palavras, pede a Deus em seu favor.